Por Tania Almeida*

David Cooperrider e Diana Whitney são pioneiros na ideia de fazer o diagnóstico da saúde das empresas e das organizações em geral. O professor e pesquisador de comportamento organizacional e a consultora dedicada a processos de mudanças organizacionais, especialmente na vigência de novas parcerias, nos brindam – e aos seus clientes –, com inúmeros ensinamentos norteadores para transformações favoráveis no ambiente empresarial, reunidos no livro da dupla Investigação Apreciativa: uma abordagem positiva para a gestão de mudanças.

O valor estratégico da saúde empresarial 

Na contramão do que, até então, se entendia como tarefa primordial dos consultores empresariais – diagnosticar patologias e prescrever soluções – originando redesenhos e reengenharia nos ambientes corporativos, os autores chegam querendo conhecer os pontos fortes dos empreendimentos ou contextos de convivência – comunidades, instituições.

Aliadas aos pontos fortes, David e Diana provocam a identificação de habilidades da organização e de seus integrantes, prestigiando suas competências e mostrando que sua convergência em atuação sistêmica e em direção às metas desejadas geram eficiência. 

Um dos trabalhos mais significativos da dupla ocorreu em junho de 2004, na sede da ONU, por ocasião do Global Compact Leaders Summit, quando Kofi Annan era secretário-geral da instituição. O encontro reuniu líderes de relevantes organizações – empresariais, trabalhistas e da sociedade civil – e teve como tema um Pacto Global que reuniu recomendações e ações imperativas para; (i) a sustentabilidade de cooperações multilaterais, (ii) o relacionamento entre negócios e sociedade, visando o desenvolvimento, e (iii) as significativas inovações e metas voltadas aos direitos humanos, condições decentes de trabalho, preservação ambiental e anticorrupção.

O que é a Investigação Apreciativa?

É uma natureza de consultoria/intervenção voltada a grupos de convivência – de comunidades as organizações – que visam processos de mudanças e inclui todos os interessados em um futuro promissor e almejado por aquele grupo. Nesse processo estão incluídas a investigação e fortalecimento de sucessos do passado, na medida em que servem de ratificação de potencialidades existentes e necessárias ao futuro que se quer alcançar.

Resgata as melhores práticas e as conquistas alcançadas, tomando-as como motivação e inspiração para objetivos que se quer atingir à frente. Fortalece competências e denuncia suas sinergias em direção às metas identificadas pelo grupo.


Metodologia

A metodologia está baseada em perguntas que resgatam fortalezas por meio do diálogo franco. Demonstra que nossas opções pelo melhor de nós é diuturna e que a experiência de oferecer o melhor de nossas competências pode ser consciente. 

Na prática, a Investigação Apreciativa troca a análise de um problema para a análise do que chama de núcleo positivo de um determinado grupo: seus pontos fortes e melhores práticas, inovações e competências, capital social e conhecimento agregado, valores e vantagens estratégicas, alianças e parcerias, dentre outros aspectos.

Mudanças, reformas estruturais ou planejamentos têm como pano de fundo o núcleo positivo da organização vinculado às agendas, prioridades de mudança e novas estratégias. Esse contexto envolve pessoas de todos os segmentos da organização, desafiando-as a redefinirem questões deficitárias em tópicos afirmativos – o que se quer mudar/alcançar.

Trabalha com um ciclo de 4 fases investigativas: 

  • Descoberta: engajando todos na identificação de pontos fortes, competências e melhores práticas.
  • Sonho: demandando de todos uma visão de futuro que almeje resultados que se quer alcançar e que serão, igualmente, demandados pela sociedade.
  • Planejamento: envolvendo parte do grupo e visando alcançar o sonho identificado, articulando os pontos positivos destacados na fase de descoberta.
  • Destino: fortalecendo positivamente o sistema para que implemente o planejamento e sustente as mudanças almejadas, tornando o futuro concreto.

O papel das lideranças

Presentes ao longo do processo, devem promover e/ou catalisar a mudança positiva que querem atingir. Participam, como os demais dos questionamentos, com voz ativa e, também, oferecendo perguntas, além de sua percepção. Atuam, especialmente, com escuta atenta e inclusiva de todas as contribuições recebidas.

Auxiliados por consultores e pela equipe que está aplicando essa metodologia, integram ativamente a fase de planejamento – que tem equipe designada para este fim (equipe central) –, sua divulgação e implementação.

O papel dos demais integrantes da organização

Os consultores mencionados acima fazem uma interface entre as lideranças e a equipe central (dedicada ao planejamento), e atuam igualmente no treinamento de grupos dos distintos segmentos da organização, auxiliando-os a incorporar o questionamento apreciativo à prática diária.

A equipe central está à frente da fase de planejamento e de estratégias, utilizando, igualmente, o questionamento apreciativo no cotidiano.

Os demais integrantes da organização são entrevistados e treinados, compartilham as melhores práticas e esboçam a organização ideal. Criam sistemas e estruturas com base no planejamento feito e na investigação apreciativa, que se torna, também para eles, prática diária.

Princípios para o sucesso da Investigação Apreciativa

Após anos de trabalho com essa metodologia aplicada a dezenas de organizações e de comunidades de distintas culturas, os autores reportam mudanças organizacionais e sociais nos contextos em que atuaram, assim como identificam o que motiva as pessoas a realizarem o melhor de si e a cooperarem entre si em prol de um objetivo comum.

Os destaques, na realidade, falam do que necessitam todos os seres humanos, participantes de quaisquer contextos:

  • Serem reconhecidos pelo bom desempenho em suas funções e conhecidos como pertencentes a um grupo.
  • Terem voz e perceberem suas contribuições acolhidas.
  • Sonharem em conjunto e terem no outro uma parceria também interessada em um objetivo comum.
  • Serem convidados a contribuir e elegerem participar de um projeto que vislumbre crescimento e sustentabilidade.
  • Terem legitimidade e suporte para agir proativamente.
  • Serem integrados a um projeto que visa mudanças positivas e depende deles para se realizar.

Como esse tema se articula com a Mediação de Conflitos?

Em tudo! 

A Investigação Apreciativa olha para o futuro, redefine eventuais inadequações, visita o passado especialmente para identificar competências e realizações positivas e exitosa, convida os envolvidos a perceberem as convergências de seus interesses e metas, criando cenários que utilizem o melhor de cada indivíduo, para o bem-estar de cada um e de todos no entorno. 

Como mediadores ou como facilitadores de diálogos do cotidiano, em situações de crise ou de potencial conflito, esse é um conhecimento que vale a pena ser incorporado às nossas atuações empresariais e às nossas vidas.

Seja qual for o cenário de aplicabilidade da Mediação, perguntas que legitimem e enalteçam pontos fortes, aliadas ao planejamento de ações que articulem o melhor de cada envolvido e respeitem suas diferenças, é proposta extremamente consonante com os propósitos da Mediação.

 

Investigação Apreciativa: uma abordagem positiva para a gestão de mudanças

Investigação Apreciativa: uma abordagem positiva para a gestão de mudanças, de David Cooperrider e Diana Whitney
Editora Qualitymark, 2006 – 1ª Edição
96 páginas

 

 

 

 

Em nosso próximo encontro de leitura comentada, visitaremos a obra O Poder do Não Positivo: como dizer não e ainda chegar ao sim, de William Ury. Parece um super desafio, não?

 

* Tania Almeida – Mestre em Mediação de Conflitos e Facilitadora de Diálogos entre pessoas físicas e/ou jurídicas. Há 40 anos desenha e coordena processos de diálogo voltados ao mapeamento, à prevenção de crises, à administração de mudanças e à resolução de conflitos. É idealizadora e fundadora do Sistema MEDIARE, um conjunto de três entidades dedicadas ao diálogo – pesquisas, prestação de serviços, ensino e projetos sociais.

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