Por Philipe Lantos1 e Sergio Nassim Harari2
Resumo
Esse artigo discute o uso de uma nova ferramenta em processos de resolução de conflitos. O instrumento é fruto de uma adaptação e integração de duas ferramentas, uma utilizada em processos de coaching e outra em análise de conflitos. Aplicações experimentais realizadas com a nova ferramenta sugerem que ela possibilita: (i) orientar o processo de mapeamento e compreensão do conflito – etapa imprescindível para a atuação de coaches, profissionais de práticas colaborativas, facilitadores de diálogo e mediadores; (ii) promover a conscientização dos envolvidos no conflito quanto aos fatores que o caracterizam; (iii) identificar os pontos de intervenção convenientes; (iv) estimular o planejamento de ações necessárias ao adequado manejo do dissenso.
Palavras-chave: Roda da Vida, Roda do Conflito, Coaching, Processos de Resolução Consensual de Conflitos, Roda de Mapeamento do Conflito.
1 – Introdução
A Roda de Mapeamento do Conflito foi adaptada a partir de duas ferramentas: (i) a Roda da Vida, uma ferramenta criada pelo americano Paul J. Meyer nos anos 19603, e largamente utilizada em processos de coaching; (ii) a Roda do Conflito (Wheel of Conflict), desenvolvida por Mayer (2000)4 a partir do Círculo das Causas do Conflito elaborado por Christofer W. Moore5, e que apresenta uma ilustração gráfica dos fatores que dão origem aos conflitos, criada originalmente para dar suporte a processos de mediação dos mesmos.
Embora a Roda da Vida seja uma ferramenta amplamente ensinada e utilizada em institutos e por profissionais de coaching, não encontramos em nossa pesquisa referências aos estudos que resultaram em sua origem, apenas a informação de que foi criada e utilizada por Paul J. Meyer. Possivelmente, tem alguma conexão com a representação da existência na Roda da Vida budista.6
No contexto do coaching, a Roda da Vida (Figura 1) tem o objetivo de oferecer um panorama pessoal e holístico de um dado momento da vida do coachee (o cliente do coaching), através de um desenho, que facilita a visualização dos vários aspectos analisados, expostos em um único quadro. Com ela em mãos, é possível analisar problemas, elencar prioridades e traçar planos futuros para atingir um novo equilíbrio existencial.
Figura 1 – Roda da Vida
Fonte: Google Images
A figura acima ilustra as características de cada quadrante (área) da Roda da Vida, e os temas são investigados, por meio de perguntas, sobre: Área Pessoal (saúde e disposição, desenvolvimento intelectual, equilíbrio emocional); Área profissional (realização e propósito, recursos financeiros, contribuição social); Relacionamentos (família, desenvolvimento amoroso, vida social); Qualidade de vida (hobbies e diversão, plenitude e felicidade, espiritualidade).
A outra ferramenta que foi utilizada como base para o desenvolvimento da Roda de Mapeamento do Conflito foi a Roda do Conflito (Wheel of Conflict). Trata-se de um instrumento de análise, cujo objetivo é organizar outras ferramentas de investigação do conflito, e servir como visão geral.
Figura 2 – A Roda do Conflito
Fonte: Google Images
Os aspectos avaliados pela Roda do Conflito (Figura 2) são:
- Estrutura – partes envolvidas direta e indiretamente, dinâmica dos participantes;
- Emoções – as emoções instigadoras do conflito, os processos de tomada de decisão;
- História – as experiências passadas das pessoas, a história do relacionamento;
- Comunicação – as formas de comunicação vigentes, verbais e não verbais;
- Valores – necessidades e objetivos dos envolvidos; como pensam, sistema de crenças.
Uma vez listados os principais aspectos do conflito, conforme acima descritos, escolhem-se as ferramentas mais adequadas à análise dos aspectos sobre os quais se deseja aprofundar a avaliação. De acordo com Mason e Rychard (2005)7, as principais ferramentas para realizar essa tarefa são: (i) Árvore do conflito, que trata da relação entre os fatores estruturais e dinâmicos do conflito; (ii) Mapeamento do conflito, que foca nos atores e nos seus inter- relacionamentos; (iii) Modelo de escalada do conflito de Glasl8 que adequa a intervenção ao nível de escalada do conflito; (iv) Análise de perspectiva do conflito da Inmedio (instituição de mediação alemã), que focaliza nas diferentes perspectivas das várias partes envolvidas no conflito; (v) Mapeamento Necessidades-Medos, que foca nos atores e suas questões, interesses, necessidades, medos, meios e opções; e (vi) Modelo de papel multi-causal, que foca nas causas, razões, gatilhos, canais, catalizadores e objetivos, considerando atores, dinâmicas e estruturas.
Por sua vez, Mayer (2000) insere no centro da sua Roda do Conflito as necessidades humanas (que, na sua visão, abrangem os interesses), que impulsionam as pessoas à ação, incluindo o envolvimento em conflitos. Para o autor, a análise das necessidades é um passo seguinte, não examinado em detalhe no estudo ora descrito.
2 – A Roda de Mapeamento do Conflito
Para os fins do presente projeto, transportamos a configuração e o conceito de utilização da Roda da Vida diretamente para a área de conflitos, onde se situa nosso interesse. Tal transposição resultou na reorganização e ampliação (de 5 para 12) dos aspectos da Roda do Conflito a serem considerados na busca de compreensão, reflexão e adequado manejo das controvérsias.
Cada conflito resultante das interações pessoais é único, com características que o distinguem não só de outros conflitos ou da mesma situação conflituosa com outros participantes, mas também da mesma controvérsia, envolvendo as mesmas partes, mas em outro momento, ou ambiente. O conflito é influenciado e alterado tanto pelo transcurso do tempo, quanto, e intensamente, pelo ambiente e contexto onde se desenvolve, pelos valores, necessidades, sentimentos e crenças das pessoas envolvidas. Por exemplo: diferença de gerações, de culturas, de forma da educação e diferença nas condições financeiras. Em geral, os conflitos não são causados por apenas um dos fatores acima, mas pela combinação de vários elementos que interagem e influenciam uns aos outros, e que determinam as características e a complexidade de cada situação.9
Como podemos ver abaixo (Figura 3), a Roda de Mapeamento do Conflito proposta neste estudo é formada por uma escala de 10 (dez) círculos de tamanhos crescentes, e dividida em 12 (doze) partes (30° cada), cada uma representando um aspecto importante do processo de desenvolvimento e composição do conflito. Esses doze componentes estão agrupados em quadrantes, formando então 4 grupos de três aspectos cada.
Figura 3 – A Roda de Mapeamento do Conflito
Os quadrantes da Roda, bem como os aspectos do conflito que compõem cada quadrante/categoria, foram escolhidos com base em: (i) modelos disponíveis na literatura correlata, tais como o modelo de Mayer; (ii) nossa formação teórica e experiência prática como mediadores e coaches de conflito; (iii) estudos que resultaram no desenvolvimento e implementação de um sistema/modelo de avaliação do nível de complexidade do conflito, que contou com a contribuição dos autores do presente trabalho e é praticado na Câmara de Mediação MEDIARE.
A atribuição de valores – de 0 para “Falso” a 10 para “Verdadeiro” – para cada aspecto da Roda, expresso com uma afirmação, resulta em quanto maior a pontuação maior a relevância daquele aspecto específico no conflito vivido. Por sua vez, quanto mais fatores apresentarem uma maior pontuação, mais complexa é a situação conflituosa apresentada. Desse modo, a visualização das respostas à ferramenta é de fácil compreensão.
É importante ressaltar que um mesmo aspecto pode ser constituído por várias causas ou elementos. Assim, uma alta relevância/importância atribuída a um aspecto pode ter distintas fontes ou razões para duas pessoas diferentes. E, mesmo diante dessas diferenças na constituição dos aspectos, sua análise será válida para explorar as informações sobre aquele componente e seus fatores, e possibilitar uma melhor compreensão e debate sobre o tema específico, e sobre o conflito em questão. Nesse sentido, a forma de examinar tais dados é por meio de perguntas, exemplificadas a seguir.
2.1 – Os quadrantes, os aspectos, e os fatores de cada aspecto a serem investigados
O Problema
- – É alta a escalada do conflito (tempo de instalação, histórico e intensidade), o canal de comunicação está deteriorado?
- – A situação ou as soluções propostas pela outra parte são injustas?
- – O tema do desentendimento é importante em relação a valores pessoais, sentimentais e/ou financeiros, gerando alto impacto emocional?
As Pessoas
- – É alta a importância do relacionamento com a outra parte ou é alto o número de partes direta ou indiretamente envolvidas?
- – A outra parte tem comportamentos (ou estratégias) negativos repetitivos, ou existem experiências negativas anteriores, expectativas não atendidas, já houve situação de quebra de confiança?
- – O relacionamento prévio entre as partes nunca foi bom, há percepções negativas a respeito das intenções (declaradas ou não) da outra parte, estereotipagem?
O Processo
- – Tem pressa ou tem pouco tempo disponível para resolução, está sob alguma forma de pressão?
- – São poucas e/ou são de má qualidade as informações disponíveis (e necessárias), ou a situação envolve questões técnicas complexas?
- – É alto o grau de judicialização ou arbitralização e/ou já foram feitas muitas tentativas de resolução sem sucesso?
O Contexto / Ambiente
- – É alto o desequilíbrio entre as partes, uma das partes tem mais poder, recursos, informação, e/ou conhecimento que a outra?
- – O contexto / O ambiente, os fatores estruturais são desfavoráveis à solução, há escassez de recursos, vantagem de briga x acordo?
- – A rede de pertinência impacta negativamente?
A concepção da Roda de Mapeamento do Conflito, acima desenhada e descrita, foi testada e aprovada em situações reais, mas entendemos que a abordagem é flexível: pode-se lançar mão de outros aspectos, bem como de outras categorias/quadrantes, a critério dos profissionais que estarão utilizando/aplicando a ferramenta.
3 – A Metodologia de utilização da ferramenta
3.1 – O preenchimento da Roda
Quando o contexto é de coaching ou preenchimento em sessão privada de mediação por apenas uma das partes, a Roda é apresentada impressa, e o indivíduo é convidado a atribuir uma pontuação (notas / valor) de 0 (zero) a 10 (dez) a cada pergunta sobre a pertinência do aspecto, em relação à situação conflituosa em análise, onde “0” significa “falso”, e “10” significa “verdadeiro”. Nesse momento também são esclarecidas pelo(s) profissional(is) eventuais dúvidas e detalhes em relação às perguntas e aos fatores que compõem cada um dos aspectos. Ao atribuir a pontuação, o participante é instado a ir colorindo/preenchendo com lápis, caneta ou caneta hidrográfica (de uma única cor ou de diferentes cores para cada aspecto ou quadrante) as áreas em direção à borda do círculo. Uma vez preenchidas todas as doze áreas, teremos como resultado uma representação gráfica do conflito.
No caso da facilitação de diálogos ou da mediação, quando temos mais de uma parte envolvida, a Roda pode ser: (i) aplicada separadamente para cada parte (dois formulários), em sessões privadas (caucus), e depois analisada também individualmente, sem compartilhar com a outra parte; (ii) aplicada separadamente para cada parte (dois formulários), em sessões privadas (caucus), e depois comparada pelas partes em uma sessão conjunta, se as partes autorizarem e o nível de comunicação e relacionamento atual entre as partes possibilitar; (iii) aplicada e preenchida em sessão conjunta pelas partes (em um único formulário), permitindo, já no momento do preenchimento, uma avaliação e reflexão inicial pelas partes sobre os aspectos do conflito. Essa opção já promove o início da mediação e a busca de consenso.
3.2 – A reflexão sobre o quadro preenchido
É importante enfatizar que o resultado gráfico do preenchimento dos espaços leva a um único quadro (desenho) que facilita a visão do sistema como um todo, colaborando na identificação dos desequilíbrios e pontos que merecem uma conversa aprofundada e uma intervenção mais atenciosa.
Com o desenho pronto, o objetivo do profissional passa a ser estimular o(s) indivíduo(s) a refletir(em) sobre ele e estabelecer(em) um plano de ações para conquistar um equilíbrio mais satisfatório no futuro. Quais aspectos têm as maiores notas? As mais baixas? Quais são as áreas prioritárias nesse momento? Quais aspectos influenciam, interagem e de que maneira? Quais aspectos são mais relevantes ou têm maior impacto na sua qualidade de vida? A partir de uma melhor compreensão da construção e composição do conflito, é possível ao profissional planejar as possíveis intervenções de apoio, rever prioridades, e ajudar o(s) indivíduo(s) a criar(em) projetos nas diferentes áreas, traçar(em) metas específicas e planos de ação para atingi-las.
Para extrair o melhor da ferramenta, recomenda-se evitar a superficialidade e aprofundar ao máximo o processo de conscientização. Recomenda-se também a reavaliação periódica da Roda, para que os envolvidos se mantenham atentos ao progresso alcançado e às necessidades de ajustes de rota.
A análise dos resultados decorrentes do uso da Roda deve abranger prioritariamente os seguintes pontos:
(i) Conscientização – incentivar a visão e compreensão ampliada e aprofundada da situação; detectar as ações que viram hábitos e que sendo repetidas várias vezes se transformam em crença; identificar o processo de mudança almejado. Qual o estado desejado do processo de mudança? (Ser específico na definição do estado desejado, colocar de forma positiva e com foco no futuro. Explorar sentimentos positivos e estados emocionais de satisfação. Simular a vivência do estado desejado – o que precisa estar acontecendo neste estado? Associar sentidos sensoriais, congruência, ).
(ii) Avaliação de obstáculos e recursos necessários para superá-los – os recursos necessários e os recursos disponíveis. O que está impedindo? (Barreiras, obstáculos, crenças limitantes, ganhos secundários observáveis ou não, ambiente, assuntos mal resolvidos, organização mental e pessoal). Recursos positivos que podem ser de grande ajuda (eventos positivos já realizados e observáveis, pontos fortes, ajuda da rede).
(iii) Propostas de ação – os processos que precisam ser fortalecidos até gerar comportamentos sustentáveis; avaliar qual a parte da Roda de Mapeamento do Conflito que será trabalhada no processo de mudança (deve estar ao alcance e ser relevante); verificar sentimentos e sensações; criação de caminhos criativos e inovadores para o estado desejado (utilizando os recursos positivos e disponíveis, o que pode ser feito de diferente? Criar as estratégias para gerar mudanças, quebrar regras e paradigmas, dissociação, ).
4 – Relato das experiências
Para fins desse estudo, foi conduzida uma pesquisa de abordagem qualitativa, do tipo descritiva. O método utilizado para descrever a aplicação da ferramenta foi o estudo de caso. Os estudos de caso geralmente são preferidos quando se colocam questões tipo “como” e “por que”; quando o pesquisador tem pouco controle sobre os acontecimentos e quando o foco se encontra em fenômenos contemporâneos inseridos em algum contexto da vida real (YIN, 2005)10.
Foram escolhidos como unidades de análise três casos de atendimento de coaching de conflito e três casos de mediação na área da família, por serem representativos e típicos para ocorrência de conflitos, refletindo as circunstâncias e condições do dia-a-dia das atividades estudadas.
As fontes de evidências foram obtidas pelos autores/pesquisadores na aplicação da ferramenta e por meio de observação dos comportamentos, bem como da comunicação verbal e corporal dos indivíduos atendidos em procedimentos de coaching de conflito e de mediação judicial.
Em todos os casos a ferramenta foi utilizada como roteiro para o levantamento de informações sobre o que trazia as pessoas à sessão de coaching ou de mediação, e foi oferecida uma caixa de lápis de cor com doze unidades de cores diferentes para o preenchimento da Roda. Mantendo o sigilo indispensável à atividade, modificando dados dos participantes e sem detalhar o ocorrido durante as sessões nas quais a ferramenta foi utilizada, destacamos os seguintes aspectos:
4.1 – Três casos de Coaching de Conflito envolvendo três clientes
(i) uma executiva em situação de conflito com um membro do Conselho de administração da empresa; (ii) um pai com dificuldades de lidar com sua filha com necessidades especiais; e (iii) uma empresária em situação de litígio em uma dissolução societária. Nos três casos, os coachees conseguiram compreender as perguntas que guiaram o preenchimento da Roda, bem como relataram que a visão final da configuração obtida e as reflexões estimuladas pelo coach possibilitaram um aumento do grau de consciência da situação. Os coaches também relataram que a utilização da Roda foi satisfatória, oportunizando debate e guiando perguntas de esclarecimento que foram úteis para a compreensão das situações e planejamento dos próximos passos do atendimento.
4.2 – Três casos de Mediação de Conflitos envolvendo sete pessoas
(i) um pai, militar, separado, e sua filha maior de idade, em um conflito envolvendo o pagamento de auxílio financeiro e ausência do pai; (ii) dois irmãos maiores de idade e o pai, separado, também envolvendo o pagamento de auxílio financeiro e ausência do pai; (iii) um ex-casal discutindo um pedido de redução de pensão alimentícia dada ao filho
Nos três casos, os mediandos preencheram a Roda em sessões privadas, sendo que: (i) no primeiro caso, as Rodas preenchidas por ambos foram comparadas em sessão conjunta subsequente, permitindo que ambos visualizassem como a outra parte percebia o conflito –o que estimulou cada um a se colocar no lugar do outro – tendo sido notada também uma semelhança grande entre as visões dos dois sobre o conflito; (ii) no segundo caso, percebeu- se que, além de contribuir para a obtenção de informações sobre a situação, o uso da Roda possibilitou aos irmãos (muito tensos inicialmente) se descontraírem significativamente, tornando o processo de investigação e mapeamento mais lúdico e menos formal. Notou-se também que os mediandos escolheram cores mais fortes e empregaram mais intensidade no uso dos lápis quando os aspectos foram mais relevantes e receberam notas mais altas, suscitando, consequentemente, uma maior área preenchida na Roda; (iii) no terceiro caso, o preenchimento foi útil para a condução da investigação dos fatos, mas foi principalmente útil para que a mãe, ainda muito magoada com o ex-marido pelo sofrimento do filho, pudesse “descarregar / esvaziar” um pouco seu conteúdo emocional. Esta demonstrou satisfação no preenchimento, chegando a externar apreço ao resultado final, que chamou de “sua mandala”.
5 – Conclusão
A Roda de Mapeamento do Conflito, ferramenta criada a partir da adaptação e integração de dois instrumentos, mostrou ser uma ferramenta útil para fazer uma imagem da situação conflituosa, bem como para promover reflexões e o planejamento de ações, nos casos de atendimento individual, seja em procedimento de Coaching de Conflitos ou de Facilitação de Diálogos e Mediação de Conflitos.
A ferramenta pode também ser utilizada nas sessões conjuntas de Facilitação e Mediação, para o mapeamento da situação de controvérsia e a promoção de reflexões e planejamento de ações. A Roda pode também ser empregada para permitir que as partes, na medida em que juntas preencham e avaliem a Roda, ”separem os problemas das pessoas” (primeiro princípio da Escola de Negociação de Harvard e uma das bases da resolução de conflitos), relaxem e se descontraiam durante a sessão de mediação, e ainda se coloquem no lugar das outras, outro passo fundamental para a auto-implicação e colaboração mútua dos envolvidos na solução de suas controvérsias.
Considerando a relevância da ferramenta aqui estudada sob uma ampla perspectiva, a finalidade do uso da Roda de Mapeamento do Conflito na condução de um processo de resolução de conflitos – Coaching de Conflito, Práticas Colaborativas, Facilitação de Diálogos ou Mediação de Conflitos – é fornecer aos profissionais e às partes envolvidas um instrumento de apoio. O seu objetivo específico é facilitar o mapeamento do conflito, a imersão e reflexão sobre a situação conflituosa e uma melhor compreensão dos fatores envolvidos. O estímulo do profissional para o indivíduo avaliar o grau de intensidade dos aspectos na Roda impele a expressão, a externalização, a conscientização e a reflexão acerca dos componentes do desentendimento e dos sentimentos existentes em relação à situação conflituosa.
Como limitações metodológicas, entendemos que, por ser este um estudo qualitativo, os resultados não podem ser generalizados. É possível, no entanto, afirmar que o uso da ferramenta proposta em circunstâncias semelhantes às dos casos estudados tem potencial para ser útil e enriquecer o procedimento de manejo do conflito. Considerando as especificidades quanto ao nível de instrução e à capacidade cognitiva de cada indivíduo, é possível que a aplicação da ferramenta em pessoas de menor nível de instrução necessite do profissional (coach/mediador) um maior cuidado no uso das palavras para assegurar a compreensão adequada das perguntas, a reflexão pertinente e os resultados almejados. Essa necessidade de flexibilidade na escolha do nível de complexidade da comunicação em função do público destinado não é novidade para coaches e mediadores, mas é sem dúvida uma exigência a ser levada em consideração na aplicação da ferramenta.
Finalmente, no contexto de nossa conclusão que a Roda de Mapeamento do Conflito é uma ferramenta muito útil para trabalhar conflitos e, nesse sentido, rica em possibilidades, sugerimos as seguintes questões a serem exploradas em futuras pesquisas:
(i) desenvolver novas opções para os aspectos da Roda, adaptados e/ou ajustados a diferentes segmentos ou áreas de atuação – Família, Empresarial, Ambiental, Escolar, entre outros;
(ii) buscar relacionar a escolha das cores de preenchimento e também sua intensidade com os sentimentos relatados;
(iii) entender de forma mais profunda o impacto que o preenchimento da Roda gera nas pessoas atendidas, e também nos profissionais que a estão aplicando;
(iv) verificar a possível utilidade da ferramenta em outros contextos que guardem afinidade com estes que fizeram parte do teste do instrumento;
(v) considerando o contexto aqui apresentado, verificar outras possíveis utilidades, tais como o preenchimento de outra Roda, contemplando uma situação futura ideal, a ser.
1 Graduado em Direito. Pós-Graduado e Mestre em Administração e Desenvolvimento Empresarial. Formação em Coaching, Formação plena em Mediação de Conflitos pelo MEDIARE, certificado pelo Instituto de Certificação e Formação de Mediadores Lusófonos (ICFML). Mediador da Câmara MEDIARE, do Centro Brasileiro de Mediação e Arbitragem (CBMA), da Câmara FGV-RIO, do Tribunal de Ética e Disciplina e da Câmara Privada da OAB/RJ, e do CEJUSC da Comarca da Capital RJ – Varas Empresariais, de Família e Cíveis. philantos@yahoo.com.br
2 Graduado em Engenharia pela PUC-RJ com Pós-graduação em Gerência de Projetos de Software pela mesma instituição. Especialista em Docência do Ensino Superior. Formado em Mediação de Conflitos pelo MEDIARE (Teórico 2014/100h e prática supervisionada 130h) e em Practitioner Coach pelo Instituto Internacional Japonês de Coaching. Mediador certificado pelo ICFML – Instituto de Certificação e Formação de Mediadores Lusófonos (2015); sergio.harari@gmail.com
3 A esse respeito, ver artigo de FILHO, Tomas. Roda da vida, quem a criou e para que serve. (30 de maio de 2017). Disponível em: https://tmfacil.com.br/roda-da-vida-quem-a-criou-e-para-que-serve/ Acesso em 22 de setembro de 2018.
4 MAYER, Bernard S. The dynamics of conflict resolution: a practioner’s guide. San Francisco: Jossey-Bass, 2000.
5 MOORE, Christofer W. The mediation process: practical strategies for resolving conflict, 2nd edition. San Francisco: Jossey-Bass Publishers, 1996, p. 60-61.
6 FERNÁNDEZ, José Carlos. O budismo e a Roda da Vida – Organização Internacional Nova Acrópole (OINA). Disponível em: http://nova-acropole.pt/a_roda_vida.html Acesso em 22 de setembro de 2018.
7 MASON, Simon; RYCHARD, Sandra. Conflict analysis tools. Bern: Swiss Agency for Development and Cooperation, SDC, Copret, Dec 2005. Disponível em: http://www.css.ethz.ch/content/dam/ethz/special- interest/gess/cis/center-for-securities-studies/pdfs/Conflict-Analysis-Tools.pdf Acesso em 22 de setembro de 2018.
8 GLASL Friedrich. Auto–ajuda em conflitos: uma metodologia para reconhecimento e solução de conflitos. São Paulo, S.P.: Editora Antropofísica, 1999.
9 Para uma ampla análise do conflito como fenômeno, ver BIANCHI, Angela Andrade; JONATHAN, Eva; MEURER, Olivia Agnes. Teorias do conflito. In: ALMEIDA, Tania; PELAJO, Samantha; JONATHAN, Eva (Coords). Mediação de Conflitos para iniciantes, praticantes e docentes. Salvador: Ed. Juspodivm, 2016, p. 71- 85.
10 YIN, Robert K. Estudo de Caso: planejamento e métodos. Porto Alegre: Bookman, 2015.
Referências bibliográficas
BIANCHI, Angela Andrade; JONATHAN, Eva; MEURER, Olivia Agnes. Teorias do conflito. In: ALMEIDA, Tania; PELAJO, Samantha; JONATHAN, Eva (Coords). Mediação de Conflitos para iniciantes, praticantes e docentes. Salvador: Ed. Juspodivm, 2016, p. 71- 85.
FERNÁNDEZ, José Carlos. O budismo e a Roda da Vida – Organização Internacional Nova Acróple (OINA). Disponível em: http://nova-acropole.pt/a_roda_vida.html Acesso em 22 de setembro de 2018.
FILHO, Tomas. Roda da vida, quem a criou e para que serve. (30 de maio de 2017). Disponível em: https://tmfacil.com.br/roda-da-vida-quem-a-criou-e-para-que-serve/ Acesso em 22 de setembro de 2018.
GLASL Friedrich. Auto–ajuda em conflitos: uma metodologia para reconhecimento e solução de conflitos. São Paulo, S.P.: Editora Antropofísica, 1999.
MASON, Simon; RYCHARD, Sandra. Conflict analysis tools. Bern: Swiss Agency for Development and Cooperation, SDC, Copret, Dec 2005. Disponível em: http://www.css.ethz.ch/content/dam/ethz/special-interest/gess/cis/center-for-securities- studies/pdfs/Conflict-Analysis-Tools.pdf Acesso em 22 de setembro de 2018.
MAYER, Bernard S. The dynamics of conflict resolution: a practioner’s guide. San Francisco: Jossey-Bass, 2000.
MOORE, Christofer W. The mediation process: practical strategies for resolving conflict; 2nd edition. San Francisco: Jossey-Bass Publishers, 1996, p. 60-61.
YIN, Robert K. Estudo de Caso: planejamento e métodos. Porto Alegre: Bookman, 2015.
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