A vida começa no Rio de Janeiro, quando uma imigrante bahiana e um imigrante mineiro, ambos de poucas posses financeiras e com extrema dedicação ao trabalho, realizam o desejo do meu nascimento. A educação rigorosa em internato de madres francesas, da infância à adolescência, a linhagem genética que miscigena portugueses, índios e africanos, além do aprendizado de valores com meus pais, nitidamente contribuem para minha formação biopsicossocial – apreço pela diversidade, trânsito fácil por distintos cenários socioeconômicos e culturais, estudo como fonte de aprimoramento e a dedicação ao trabalho, possibilitando novos patamares sociais.
A vida acadêmica e profissional tem início na medicina – neurologia e psiquiatria infanto-juvenis, segue pela psicoterapia de crianças e adolescentes, e estaciona na terapia de família. Nesse pit stop, facilitar o diálogo em situações de litígio – divórcios e empresas familiares, se torna meu cotidiano profissional por mais de 20 anos. Nesses cenários, as habilidades para ajudar a construir consenso nas divergências, com base na comunicação e na relação conflituosa, se mostram insuficientes e a Mediação de Conflitos veio adicionar um caráter mais negocial à minha atuação. Estamos no início da década de 90. Conjugação perfeita de conhecimentos para trabalhar com empresas de origem familiar, ou não, nos seus diálogos internos e com stakeholders externos – reúno, para esses cenários, expertise em relacionamentos, em comunicação, em negociação e em construção de consenso, visando o benefício mútuo. Mix perfeito, aliado ao prazer de auxiliar famílias empresárias a amadurecerem, preservando as relações interpessoais.
E lá se vão mais de quarenta anos de encantamento pela dinâmica das empresas familiares, e mais de trinta anos de encantamento pela mediação e pela facilitação de diálogos, atuações profissionais de enorme impacto social – pelo efeito curativo nas situações presentes e pelo caráter preventivo no que diz respeito a eventos futuros, naturalmente inerentes à convivência.
O convite para ser monitora na formação de terapeutas de família (década de 80) me ajudou a incluir a docência no meu portfólio profissional, hoje expressa na capacitação de mediadores oriundos de distintas profissões de origem, ou pessoas iletradas. Na docência mais um encantamento: compartilhar conhecimento que aprimora a performance profissional e pessoal dos aprendentes e os torna multiplicadores de mais essa atuação positiva no social. Tenho veia de grosso calibre para atuações sociais.
Uma enorme curiosidade pelos temas destacados pela contemporaneidade de cada época me acompanha nessa trajetória. Esses temas são motivadores de muitas leituras e aprendizados em congressos e cursos. Bem alimentada por essas fontes de conhecimento, e cônscia da incompletude de todos os saberes e da nossa capacidade limitada para acompanhar suas atualizações, passo também a escrever – são muitos os artigos, um livro, a participação na coordenação de duas obras literárias e, durante a pandemia, resenhas acadêmicas a cada mês, todos dedicados a processos de diálogo, meu encantamento maior. Na sequência, uma série de Newsletters no LinkedIn, com publicação regular, está dedicada a Soft Skills e a reflexões voltadas ao cenário corporativo. À reboque, publicações curtas orientadas a reflexões práticas sobre Mediação, ganham também espaço no Linkedin.
No trajeto, a fundação (1997) e a gestão de três entidades dedicadas à prestação de serviços e à docência da Mediação de Conflitos e da Facilitação de Diálogos – o Sistema MEDIARE, que festejou seu jubileu de prata em 2022. No MEDIARE, a possibilidade de me dedicar às boas práticas em Mediação, cobrindo a formação teórico-prática de mediadores desde seu início até a participação no Programa de Educação Continuada, com grupos de estudo temáticos mensais, webinários e um Anuário que compilava artigos de teor acadêmico. A participação em redes institucionais e profissionais dedicadas ao assunto, a contribuição para códigos de ética no tema e para o marco legal brasileiro – Lei de Mediação, além da atuação como mediadora na prática privada, em instituições públicas e ONGs como voluntária, e em organizações internacionais – Banco Mundial (América Latina 2010/2020) e projeto piloto de Médicos sem Fronteiras (Brasil), são integradas ao meu percurso, aqui e ali.
Na virada de 2022 para 2023, celebrei as conquistas e as parcerias que darão continuidade ao que realizei no MEDIARE nos últimos 30 anos. Me distanciei da gestão administrativo-operacional dos projetos e programas educacionais construídos, e me mantendo mentora e supervisora em todos eles.
Nos últimos anos, tenho focado os estudos e a prática de processos de diálogo nas cenas e nos cenários corporativos lato sensu – em diferentes instâncias da governança, incluindo as conversas por vezes tensas entre seus líderes, nos conselhos consultivos e de administração, entre stakeholders internos e com stakeholders externos – dos impasses societários às interfaces com outras empresas, sempre que o diálogo produtivo possa fazer diferença na tomada de decisões, na obtenção do consenso e na continuidade saudável das relações.
A coordenação de processos de diálogo em situações de discordância (caráter preventivo) e de desavença (conflito instalado), seu mapeamento, desenho e condução, assim como o treinamento em soft skills (habilidades socioemocionais) – comunicação interpessoal, negociação de diferenças, gestão de conflitos e tomadas de decisão por consenso -, além da mentoria de líderes corporativos são parte predominante do meu atual portfólio de atuação profissional.